Wednesday, March 23, 2005

4. Desencontros – Uma carta

M.
Fica uma sensação de que tomei uma má decisão ao topar a tua idéia de jerico: terminar de novo. Pura falta de opção. Agora eu sei: estava entalada.
Depois de 3 semanas praticamente sem falar contigo, ressurge a vontade de construir contigo – fonte de minha angústia e das reações loucas que tive durante os últimos tempos.
Nesse tempo longe, fica a certeza de que este é outro tipo de rompimento, diferente do primeiro que fizemos.
Eu sei que não quero uma vida apartada de ti. E agora, no meio dessa “nova vida” que estou construindo, sinto como se cada minuto nos separasse mais...
Foi enorme o trabalho pra poder falar, o medo é gigante e já não importam os riscos. Sei que tenho vontade/disponibilidade/desejo pra viver contigo o que houver: um namoro, uma vida.
Ficou claro, também, o quanto tenho pra aprender: a confiar, a aceitar, a me entregar. Também tenho que aprender a conhecer melhor meu próprio tempo. A sair do lugar infantil que perde a direção e tomar minhas decisões em mim. E não achar que ter o meu próprio caminho invalida estar ao lado do seu – e entender que os dois podem, sim, acontecer juntos, tanto em paralelo, nas direções que cada um achar melhor, como juntos, sempre que for possível e desejado.
Descobri coisas a meu respeito das quais não me orgulho: uma rigidez absurda, uma inflexibilidade monumental, um não-olhar horroroso. A reprodução automática de modelos nos quais não acredito e que não desejo pra mim.
Com a distância vieram insights bacanas a respeito de nós dois e de você, mas principalmente sobre mim mesma.
Me descobri viciada na minha solteirice, o quanto é difícil relaxar e confiar. Não só com você: no trabalho, com amigos, na minha família. Corto tudo o que chega muito perto – e depois sofro porque está longe. Daí sai aquela frase: “louco conseguir o que se quer”, que escrevi quando a gente conversou pela última vez.
Isso tudo são só vislumbres de mim, revelados pelo meu afastamento e pela imensa falta que sinto de ti – que me faz querer melhorar, mudar, transformar. São novos caminhos nos quais pretendo me afundar, pelo meu próprio bem.
Tenho medo, muito medo. Principalmente da tua resposta/reação. Mas é preciso ir em frente, olhar e ver, ser flexível e aprender a lição: dar, receber e me recolher quando for minha hora; manter o meu fio de pensamento e ao mesmo tempo estar aberta. Enquanto escrevo isso endureço, tento controlar o tremor e a emoção – até agora esse tem sido o meu jeito de ir em frente...
Para mim, é como estar frente a frente com os 12 trabalhos de Hércules. Mas é o que quero, o que preciso fazer agora: descobrir novos e outros caminhos pra ir em frente.
Não sei o que realmente está acontecendo contigo, tenho plena consciência que não sei em que ponto da tua história você está. Sei que você pode querer caminhar sozinho. E aí aparece uma outra mulher querendo “subir no salto”, como você diz. Tenho medo que isso aconteça caso eu tente te encontrar pra dizer o que estou sentindo. Aí resolvi confiar em mim e escrever.
“Não há sujeito objetivo”. A frase ecoa na minha mente. Portanto, só existe o M. que eu consigo perceber com os meus recursos. Eu admiro e respeito desse homem que me aparece, adoro conversar com ele, estar com ele. Sinto falta dos beijos dele, do abraço, do cheiro (sem perfume), da pele. E gostaria de continuar a viver ao lado dele todos os momentos disponíveis – medíocres, dolorosos, bacanas e magníficos. O espectro inteiro que há para este homem e esta mulher viverem. Se ele também quiser/puder.

A resposta? Silêncio...
(Set/2004)