Wednesday, March 23, 2005

5. Enlouquecer de si

Mergulho no teu silêncio como num mar de dor. A pele se eletriza com a dor, a raiva, a frustração. Há um nó em um canto de mim. Cheia de imagens de infância que me tomam e paralisam, quero voltar atrás, me deixar navegar pela vida – e, no entanto, fica o fugir, a solidão de quem tem medo de viver.
Pura loucura. Pura perdição. Tomada por algo externo, perco o pé, saio de cena. A pele continua elétrica. Algo dentro, macio, suave, quer aconchegar, fazer ninho. Por fora, puro espinho.
Amo e, em vez de dar carinho, bato. Os braços se movem como pás contra o ser amado. Coração acelerado, estômago apertado, boca travada. A vontade de cuspir toma conta. A vontade de morrer reaparece. O peito endurece, o pescoço se estica, a cabeça se fixa. A barriga, estéril, se torna incapaz de acolher novidades.
O resultado são noites insones e dias improdutivos. Dias passam sem sentido, em meio ao sono, à raiva, à dor. Tudo cala lá dentro.

M.
Preciso te dizer: quero viver contigo pro resto da minha vida. Ajudar teus sonhos a se tornarem reais, partilhar contigo a construção dos meus.
Ao mesmo tempo, tenho medo desse enorme buraco escuro que existe dentro de mim, que parece um saco sem fundo.
Enquanto isso sonho com uma vida ao seu lado – inteira, feliz. Quero plantar contigo, quero construir contigo, quero viver contigo as dores e os prazeres que a vida trouxer. Não entendi nada do que aconteceu ontem. Não tenho nenhum registro. Mas entendi a tua dor. Melhor que isso: senti a tua dor. Vou descansar um pouquinho, tentar me cuidar. Depois a gente pode conversar de novo?
Beijos
L.
30/07